Para se perceber
exatamente o que levou o GES ao colapso tem que se perceber uma séria fenómenos
característicos da alta gama do setor financeiro, nomeadamente, favores que se
fazem aqui, troca de influencias ali, telefonemas a deputados e ministros… Bem
aquela coisinhas que toda a gente sabe mas ninguém tem coragem de dizer!
Se por acaso
tiver curiosidade e tempo, essencialmente tempo, para aprofundar esta matéria,
no final esta um link de uma investigação cronológica levada a cabo pelo PUBLICO,
que na minha opinião esta bastante interessante.
(Todos os factos,
nomes e valores apresentados abaixo, são uma coletânea de noticias apresentadas
por vários jornais de entre os quais SOL,
i, DN, PUBLICO, JN entre outros…).
Vamos lá então
começar!
Comecemos pelo início, 2002. Numa tentativa de expansão para novos mercados, o BES abre
uma sucursal em Angola e chama-lhe de BESA.
Já nesta altura,
João Rocha, ex-quadro do BES, envia uma carta aos acionistas a denunciar “operações
pouco transparentes”. Ninguém dá importância.
Entretanto, 2006,
BES tem lucros na ordem dos 200 milhões de euros.
O ano 2009 marca
o início do fim do Império. Por esta altura a banca Portuguesa apostava
essencialmente, no financiamento em larga escala aos seus clientes. No entanto,
mais de metade da carteira de crédito do setor estava sustentada em divida
contraída junto de credores internacionais. Portanto, a banca pedia dinheiro
para emprestar.
Com isto, o BES
revela um desequilíbrio na relação crédito/depósitos de cerca de 192%. O Banco
de Portugal recomenda um teto máximo de 120%.
Com isto, o GES
acumula excesso de divida e engendra algumas operações ruinosas para esconder
as dificuldades. Basicamente, torna-se num típico aprendiz a “gambler”. Aposta
200. Perde 200. Aposta novamente 200 para recuperar o perdido. Ups, lá foram
mais 200. Entrou assim numa espiral negativa sem precedente.
O nome Espírito
Santo representava não só um grupo mas também uma família que há muito tem o
nome ligada à banca. Não seria esta geração que lhe tiraria toda a
credibilidade até agora construída. Pelo menos era o que Ricardo Salgado
pensava.
Criaram-se então
as tão faladas Eurofins, usados como banco virtual para escoar algum do
prejuízo, disfarçando assim a situação financeira do GES. (Estas Eurofins
estariam para o GES como o Banco Insular estava para o BPN)
Já em 2010, a PT
vende 50% da sua participação da Vivo à brasileira Telefónica por cerca de 7000
Milhões de euros e aplica 4500 na CGD e no BES. O banco encaixa 206M de euros com esta transação. Do valor aplicado no BES 250M são utilizados para
comprar títulos de divida da Espírito Santo Investmts (ESI), onde por esta
altura já existiria o buraco na holding que viria a contribuir em muito
para o colapso do grupo.
Estamos em 2011,
o banco precisa de injeção de capital para cumprir o rácio de solidez exigido
pelo BdP no entanto a Família não tem disponibilidade para tal. A opção é a
venda da Escom, uma holding do grupo, que por sinal deve 500M de euros ao
banco, capital suficiente para cumprir a exigência da entidade reguladora da
banca portuguesa. Salgado recorre então a Álvaro Sobrinho, CEO do BESA, para
formalizar acordo da venda. No entanto, do acordo dos 500 somente a sinalização
no valor 86M chega ao BES. O que complica, e muito, as contas de Salgado.
Não se deixando
ficar, o CEO do BES junta-se a Morais Pires e apresentam uma queixa ao
BdP do CEO do BESA.
Sobrinho não
gosta, corta relações com Lisboa e no final do ano os lucros angolanos salvam o
grupo de apresentar prejuízos.
Com o programa de
ajustamento em 2012 tudo se torna mais difícil e as regras europeias de
supervisão ficam ainda mais apertadas.
O restrito
conselho superior do GES decide chamar a geração seguinte á mesa.
Estamos então no
fatídico ano de 2013. Em Fevereiro, Pedro Queiroz Pereira, presidente da
Semapa, conhecendo a ambição de Salgado, reúne uma equipa de advogados e
economistas de forma a proteger-se do GES. E deu frutos! Descobre
parte da situação descontrolado do grupo, antecipa-se a tudo e todos e
apresenta queixa ao Banco de Portugal.
Altura quente do
ano, tanto para o país como para os Espírito Santos, várias investigações do
ministério publico, deterioração das contas das holdings, relação descontrolado
com Angola, guerra aberta com PQP, família dividida… O caos!
Enquanto isto, o
BESA monta um mega carrossel. Empresta verbas aos construtores imobiliários,
que por sua vez repassam para o comprador do imóvel, contando que o valor
obtido dos arrendamentos seja suficiente para pagar o crédito. Ora, o banco
aceita a transferência do crédito para terceiros que não apresentam capacidade
de honrar o pagamento das dívidas.
O BES é então
obrigado a registar 1423M de euros em provisões para fazer face ás imparidades
de crédito (perdas potencias por financiamento na área imobiliária
essencialmente)
A 30 de Setembro,
BdP aprofunda as avaliações financeiras do GES e inicia uma perícia ás contas
das holdings. Encontra as irregularidades que tanto tentaram encobrir.
Mas não é tudo, o
pior estaria para vir.
E chegou! Numa
Assembleia Geral do BESA chegou-se à conclusão que havia 5700M de euros de
créditos com cobrança duvidosa. Não havia porta onde bater.
Naturalmente,
Ricardo Salgado afasta Sobrinho, mas não consegue evitar que a bomba rebente no
BES que terá assim de declarar imparidades astronómicas que lhe rebentam o
balanço.
Numa tentativa de
minimizar o estrago, Salgado desloca-se a Angola e encontra-se com o Presidente
Angolano José Eduardo dos Santos, que concede uma garantia de 4200M de euros ao
BESA, seria acionada caso este ultimo não fosse capaz de cumprir as suas
obrigações com Lisboa.
Sem este aconchego angolano, caso houvesse incumprimento por parte do BESA, o BES entraria de imediato em colapso.
Sem este aconchego angolano, caso houvesse incumprimento por parte do BESA, o BES entraria de imediato em colapso.
O BdP avisa que
existem “dúvidas quanto ao preenchimento dos requisitos necessários para
considerar a garantia estatal angolana elegível para efeitos de proteção” do
banco.
As autoridades
portuguesas dão orientações a Salgado para que chegue a um acordo com PQP pela
venda da participação do grupo na Semapa.
Salgado perde
assim a guerra com PQP ao mesmo tempo que vê exposto as fragilidades do GES.
Em Novembro
Ricciardi joga cartada para afastar Salgado. Falhou. Mas será que isto quereria
dizer que o Senhor passou a Menino? Que o fim da era Salgado estaria a acabar?
E Será que iria arrastar tudo consigo?
E foi mesmo isso
que aconteceu!
O grupo atinge o
fundo! Estava com um PASSIVO de 5600 Milhões de Euros.
No final de 2013,
O Banco de Portugal avisa Ricardo Salgado que o banco esta em incumprimento e
que a garantia angolana não é válida.
BES é contaminado
pelo BESA.
Depois de muita
luta, Salgado não conseguiu salvar o jóia da coroa do grupo. Afoga-se e arrasta
tudo consigo.
A solução
encontrada, bem isso já toda gente sabe, NOVO BANCO.
Aqui está o link para aprofundar este tema:
http://www.publico.pt/economia/noticia/cronica-do-fim-do-imperio-1673213